Thursday, October 11, 2007
 
Kalabrese
Rumpelzirkus

Ainda há quem, por entre contos de fadas para crianças e o circo artístico, procure uma nova realidade que permita a reabilitação de uma música até agora perdida nos meandros de um minimalismo desprovido de sentido ou perdido no seu próprio labirinto estético. Não que o techno ou house andem arredados por completo de novas existências, mas quem ainda insiste na exploração de estruturas esqueléticas – com poucas possibilidades de se manterem firmes pelo próprio pé – escapa-lhe a possibilidade de mutação de tipologias que – especialmente durante a primeira metade dos anos 90 – sempre se adaptaram ao caldeirão da música popular, transformando-se e adaptando-se. Motivando o universo pop, tanto o house como o techno, granjearam o lento respeito de quem ainda suspeitava dos conceitos rave e tudo a ela associado.
É raro entender, por completo, as transformações a que a música se sujeita para agradar aos seus criativos mais intransigentes. E por vezes será necessário a felicidade andar por perto para a essência submersa emergir e a revelar ao mundo as ideias que tardavam a chegar aos olhos da humanidade melómana. Mas o tempo é essencial para se perceber a conjectura e encontrar explicações pertinentes.
Por agora ainda será prematuro afirmar-se que o problema encontrou a solvência desejada. Ou que Kalabrese deu o primeiro e mais seguro passo até agora. Mas é garantido que novos sopros de criatividade têm transformado a paisagem despida e esquelética em campos férteis, arejados e sequiosos de novas sementes.
Já por aí foi dito que o suiço Kalabrese – Sascha Winkler, o seu verdadeiro nome –, e o seu álbum de estreia Rumpelzirkus, ganha essencialmente pela diversidade a que sujeita a música house. É verdade. Talvez também seja verdade que desde Bodily Functions de Herbert que não se ouvia tamanha capacidade de sincretismo e especulação em torno de velhas técnicas de composição de canções. Ou mesmo que o sentido de originalidade seja recuperado por um olhar sério e transversal pela música pop sem nunca tirar a ideia do micro-house. Certo é que Rumpelzirkus é a verdadeira concretização de uma house branca e arredada da velha matriz soul e que por entre a manipulação da matéria-prima pop, exprime-se como à muito o não fazia.
Um sonho infantil pode abrir espaço a uma arena onde os sons vagueiam à sua vontade. Mas quando soa o apito final, todos esses sons sabem ocupar o lugar correcto no tempo e espaço. Rumpelzirkus não será certamente o facto estético pelo qual todos almejamos, mas a aparente inocência a que nos sujeitamos num disco – talvez excessivamente longo – que tanto alude à nostalgia dos tempos mais pop de uns Underworld, os dias mais carismáticos de Herbert ou à melancolia de David Sylvian e abraça simultaneamente, de forma coerente, a gramática da música destes últimos tempos, já serão motivos de sobra para escutar todos estes deliciosos malabarismos.
Uma vez mais é a diversidade que nos assalta. É um empilhamento de várias referências – entre elas a folk – num único trapézio que, baloiçando obliquamente, sabe equilibrar com habilidade diversas estéticas sem nunca perder o centro gravitacional. E não fosse a longa extensão de todo alinhamento o único defeito, teríamos em maõs uma obra-prima que revelaria ao mundo um novo paradigma house. Por agora renova-se o gosto pelos sons de Chicago com a inteligente habilidade de um artista que, corajosamente, se lançou pelo ar sem a corda do pragamatismo.


Lanu
This Is My Home

Eis a prova evidente que o brokenbeat não é uma exclusividade do oeste londrino. Não que This Is My Home seja um álbum pleno de ritmos quebrados e funk delirante, mas os que fazem parte do alinhamento serão mesmo os mais interessantes e pertinentes. Lanu, com origem na Nova Zelândia e actualmente a residir na Austrália, é Lance Ferguson, produtor hábil que reparte o seu tempo entre este projecto a solo e o colectivo The Bamboos. Criativo a tempo inteiro e um multi-instrumentalista é, à semelhança do seu conterrâneo Mark De Clive Lowe, um talento na forma como faz convergir numa massa sonora única diversas tipologias e espíritos.
Não terá sido o primeiro a chegar nem será o último a explorar estes ambientes. Mas muito à semelhança das metodologias de trabalho de senhores como Quantic ou os Jazzanova, Lanu é um produtor competente que revela conhecimento nas técnicas de produção e sabedoria cultural no que à matriz sonora afro-americana diz respeito. Talvez por isso as comparações ao colectivo de Berlim e a Will Holand não sejam um disparate completo. Não que haja um aproveitamento descarado dos paradigmas, mas a marca de autor de Lanu dilui-se por vezes por entre outras referências apagando-se o efeito de novidade que muito raramente consegue impor.
Lanu é competente. Que não haja dúvidas. Quem ouve “Mother Earth” não poderá deixar de acreditar que é uma das canções do ano, inteligentemente erguida por entre o brokenbeat menos austero, a soul ecologicamente apelativa e o afro-beat com cheiro a terra húmida. Outros temas seguir-se-ão. Por entre referências funk, soul, hip-hop, samba e house, vai erguendo-se um registo que procura na essência da alma um estado de espírito introspectivo mas simultaneamente festivo.
Eloquentemente tropical, This Is My Home começa prometedor com o desejo de afirmação do seu autor e com a vontade ostentar a qualidade do que é caseiro recorrendo a valores inteligentemente válidos num universo com excesso de programação inútil. Mas tudo quase acaba mal quando nos últimos minutos – "Beachcomber" e "Beijo do Sol" – Lanu opta por referências house efémeras e banais que quebram a ideia sã e facunda do início. A ideia de redundância estética do fim não invalidadará nenhum dos excelentes temas que compõem este This Is My Home. “Mother Earth”, “Rise”, “Dont Sleep (Part 3)” ou “Let You Glow” são os temas mais memoráveis e que – por entre aproximações a Quantic, Bugz In The Attic e Jazzanova – validarão o trabalho do neozelandês nos próximos tempos.
No equilíbrio entre os adjectivos bom e mau, Lanu não se destacará facilmente. Independentemente do bom perfume que Lanu tente espalhar pelo mundo – e do sincretismo que tente impor na lógica da sua música –, este jardim à porta da sua casa também tem flores malparecidas que podemos ignorar. Talvez o próximo cultivo seja mais eficaz.


 
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    "De todas as artes que conseguem crescer no solo de uma dada cultura, a música é a última das plantas a germinar, talvez porque é a mais interiorizada, e, por conseguinte, aquela cuja época vem mais tarde é o Outono e a desfloração dessa cultura. A alma da Idade Média cristã encontrou a sua expressão mais acabada na arte dos mestres holandeses: a arquitectura musical por eles elaborada é a irmã póstuma, não obstante legí­tima e igual em direitos, da arte gótica. Foi na música de Haendel que tomou forma musical aquilo que de melhor havia na alma de Lutero e dos seus, esse acento judaico-hebráico que deu á Reforma um certo ar de grandeza: o Antigo Testamento faz música, o novo não. Mozart, o primeiro, restituiu em metal soante todas as aquisições do século de Luí­s XIV e a arte de um Racine e de um Claude Lorrain. Há na música de Beethoven e de Rossini que a melodiosamente respira o século de XVIII, o século do devaneio, do ideal destruído, da fugaz felicidade. Toda a verdadeira música, toda a música original, é um canto do cisne. Talvez a nossa música moderna, seja qual for o seu império, e a sua tirania, tenha diante de si apenas um curto espaço de tempo, porque surgiu de uma cultura cujo solo minado rapidamente se afunda, de uma cultura que em breve será¡ absorvida."
    Friedrich Nietzsche In Nietzsche Contra Wagner.


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