Tuesday, November 6, 2007
 
COMMON
Finding Forever

Do título podemos já extrair a primeira ideia: Common procura a eternidade. Mais, procura inscrever o seu nome nos anais da história. Talvez assim se comece a perceber a ambição do rapper. Não será o primeiro a ter essa ambição, nem será o último. E não fosse Be, de 2005, provavelmente o rapper de 35 anos teria editado agora o seu melhor disco. Teria o derradeiro momento de glória que o projectaria para um nível de realização pessoal muito para além do que qualquer um de nós poderia sequer imaginar. Mas Be foi o verdadeiro momento de viragem tanto na forma de abordagem sonora, como da própria mutação da personalidade de Common.
O disco de 2005 foi o obvio resultado de uma introspecção pessoal. De uma deslocação de uma determinada postura mais rebelde para uma atitude adulta e responsável. Uma atitude que questiona a alma, que acredita na realidade, mas que desconfia de boa parte dos paradigmas da sociedade. No fundo, Be foi a consequência de Common ter tocado em Deus. De ter visto uma luz potenciadora de clarividência. Resultado da abertura de uma alma para um mundo de paradoxos, mas também a percepção de uma esperança suficientemente revigorante para alimento espiritual.
Finding Forever não será mais que uma consequência natural de Be. Um novo capítulo de mesmo livro. O novo disco não é uma continuação óbvia, mas também não será a revelação que foi disco anterior. Finding Forever será quase uma analogia contemporânea ao clássico The City on The Edge of Forever. Um desenvolvimento dramático onde o hip-hop, a soul, o gospel e o r&b são chamados ao cenário e forçados a interagir, onde consciências são alertadas e mentes chamadas à atenção para o perigo do desaparecimento de uma linearidade familiar.
Entre a revolta interior, a alquimia que permite melancolia e a alegria, retratos urbanos, banalidades sociais e a necessidade da inspiração religiosa, Common volta a ser certeiro na proverbial expressão dos seus sentimentos. Uma vez mais Kanye West serve de base para uma produção imaculada, não muito aventureira mas proficiente o suficiente para que a alma se expresse com eficiência. “Start The Show” e “Forever Begins” são prova disso mesmo quando de uma forma quase sublime nos encantam com uma linguagem hip hop e soul muito acima da mediocridade que reina no meio. Talvez a própria distancia entre Detroit e Hollywood seja um factor essencial para que não haja contágios com o burlesco que a industria manipula.
Calmo, sereno e sério são posturas que Common assume uma vez mais. São estados de alma que se encontram, são hipocrisias que se apontam. Finding Forever seria uma obra-prima da soul, um objecto de idolatria garantida. Tudo se Be não tivesse nascido primeiro. Tirando esse facto incontornável, não poderíamos esperar melhor num ano parco em boa música afro-americana. Curiosamente, o novo disco de Kanye West também já está por aí. Será desta que os percursos de dois mestres do hip-hop se tornão paralelos? A ver vamos. Garantido é que Finding Forever é um bom disco. Se será o derradeiro momento de glória, isso só o futuro dirá.


EBB
LOONA

Como diria Ebb: “The north of Sweden is during winter, very cold and snowy, and there are never-ending forests and wide horizons”. Não será um mero acaso da Natureza a urgência que alguns músicos e produtores do norte da Europa encontram na elaboração de retratos da terra natal em confronto directo com uma linguagem electro-acustica descongeladora de sentimentos variados. Ora venham da Islândia uns Sigur Rós ou Múm, da Noruega Erlend Oye ou uns Royksopp e agora da Suécia um Ebb, parece existir uma partilha inconsciente de ideias numa comunidade de músicos habituada ao frio polar.
Tendo crescido em Luleå no extremo norte sueco, Ebb habituou-se ao pacífico estado de alma que a natureza local lhe incutiu na personalidade. E mesmo tendo decidido deslocar-se para a cidade, o profundo contacto que sempre teve com a terra natal não se lhe obliterou da memória. E Loona é prova disso. Entre as pulsações nervosas de uma electrónica irrequieta e a calmaria poética que as suas melodias invocam, nasce um contraste evidente entre os sonhos inocentes de uma criança envolta pelo denso verde de uma floresta enevoada e a fadiga nerval que acelera o metabolismo e explora desnecessariamente o limite da tensão humana.
E será uma vez mais essa resistência que expõe o melhor de dois mundos a mais-valia que torna Ebb num músico de ideias respeitáveis no universo da folktronica. O tema de abertura – e que dá título ao disco – é um dos soberbos momentos que reflecte para o resto da música o espírito que poderemos encontrar ao longo de uma hora: uma formalidade pop que se solta com estalidos e bleeps em tom experimental. A eloquência da composição assegura-nos a integridade. A electrónica auxilia a aventura fazendo com que a máquina pulse vida sem que se olhe para ela como um biónico com excesso de programação.
O tom melancólico de “Loona” e “When Dusk Begins” relembra a outrora perfeição etérea que Sigur Rós perderam. Em “I Am All Made Of Music” os Royksopp são chamados à memória quando a interface entre a noção de melodia perfeita e o equilíbrio das electrónicas elegantes é necessário para sustentar a ideia prima. Já “Minau” vive suspenso entre as hesitações atmosféricas dos Múm e as certezas rítmicas de Four Tet. As aproximações a uns Kings Of Convenience também não passarão despercebidas, tanto que a necessidade de expor emoções não difere substancialmente, independentemente da impressão menos acústica ou mais electrónica de Ebb.
Não viveremos em Loona o absoluto reconhecimento de um novo mundo, agora já podemos viver na necessidade de descobrir, quanto antes, um disco pop que agradará a quem encontrou nos Junior Boys o ideal de canção perfeita. Frio por fora e quente por dentro, Loona reconforta-nos com a sua delicadeza natural, embala-nos a alma com a sua monção poética e derrete o gelo sem grandes contrariedades. Nem se esperaria mais em tempos de aquecimento global.


Belleruche
Turntable Soul Music
Quando algumas fórmulas se repetem em loop numa tentativa desesperada para colocar em primeiro plano ideias que só por si têm alguma dificuldade em sustentarem-se pelo próprio pé e a tudo juntam uma voz em pura revelação, existe na génese uma deficiência reveladora de pobreza de concepção que nem faz brilhar uma voz esforçada nem procura a eloquência de um groove perfeito. E fazer com que tudo soe a velho poderá também não ser a melhor forma de convencer quem, à primeira, desconfia dos propósitos da operação Belleruche comandada pelo guitarrista Ricky Fabulous e pelo modesto DJ Modest.
Seja pela ideia quase básica de um turntablism inspirado pelo jazz, pelo funk ou pelos blues, as especulações entorpecidas em torno de um trip-hop esquecido ou a invocação da recente memória de um Mr Scruff em dias dourados, a retórica de Turntable Soul Music não passa de mais um argumento inválido que envoca a memória do cânon soul e blues resguardado pelo hip-hop. Por outras palavras, aqui não há nada que uns Break Reform já não tenham tentado, por mais que uma vez, impingir – com um pouco mais de sabedoria – aos mais impetuosos consumidores de soul com traços europeus. Muito menos existe uma vontade de quebrar paradigmas instalados – no mínimo à 10 anos – pelo catálogo da Ninja Tune.
Em Turntable Soul Music os ritmos circulam instintivamente em loop, os samplers jazz rebuscados ajustam-se cautelosamente a uma voz que talvez seja a única mais valia que por aqui se ouve. Kathrin deBoer, inspirada por algumas das divas intemporais como Nina Simone, Billie Holiday, Sarah Vaughan ou até mesmo Eryka Badu, ensaia – ou pelo menos tenta – varias visões sobre a matéria por elas deixadas como legado e recontextualiza – uma vez mais – num tom melancólico todo mundo urbano refém da sua própria arrogância claustrofóbica ou cinzentismo abstracto.
Para além dos raros momentos em que Kathrin salva alguns exercícios preguiçosos do colapso absoluto – “Reflection”, “Balance” e “13.6.35” são os momentos espiritualmente mais coloridos – não haverá muito mais a esperar de um disco estafado ideologicamente à nascença. Não que o género esteja longe de potenciar novas revelações, apenas há ideias que necessitam de séria estruturação e não apenas de mera aglomeração de referências moídas pelo tempo em que estiveram expostas ao mercado sôfrego. Por isso exige-se actualmente mais espírito para dar cheiro novo ao velho e não apenas naftalina para disfarçar o mofo.


MAP OF AFRICA
Um paradoxo dos nossos tempos. Dois senhores da música de dança criam um disco rock fora de tempo, confuso mas agradavel. O que virá a seguir?
Poderia supor-se pelo título que se trata de uma viagem ao coração de África. Poderíamos supor que através dos “mapas” redescobrir-se-ia a centelha ignescente de toda a música popular contemporânea. Que estaríamos perante um dos raros momentos de reflexão cultural onde revelar-se-iam os antípodas ancestrais. Pois se pensavam, enganem-se.
Perante o verdadeiro impasse criativo que esta época está proporcionar, a ausência de rumo definido poderá não só significar – e justificar – o amalgamar sem prumo de referencias passadas, como desviar a riqueza estética de outrora numa tentativa de recuperação desesperada de um virtuosismo desaparecido como se de uma arca perdida se tratasse. E se não chegasse meia dúzia de anos do novo século para o provar, há quem não desista da subsistência seja pelo meio que for. Os diversos oportunismos – alguns positivos, outros negativos – têm não só confundido o trajecto para o futuro, como têm traído quem já tinha a certeza do que não queria.
E onde se encaixa o projecto destes manifestos militantes da actual música de dança? O que realmente pensar da ousadia de Harvey Basset e Thomas Bullock num período que parece revelar alguma revitalização da dance scene? Talvez nada. Talvez mereça a oportunidade do ouvinte que, ignorando as diversas referências que vão desde os Pink Floyd, Dire Straits ou mesmo LCD Soundsystem, encare a peça Map Of Africa como um velho desejo tornado realidade. Ou sinta a poderosa vontade de uma dupla em desdobrar-se em esforços e compor um disco rock com um falso espírito épico. Ou encare ainda isto apenas como um disco onde a música extravaza o prazer que deu em ser elaborado.
Paradoxalmente, o disco está desfasado do seu tempo e no entanto reside aí o prazer de ouvir uma música sem compromissos de futuro. O registo é linear no pensamento que sustenta, numa certa rebeldia contida, descaradamente oportunista – talvez positivo – no tempo em que vê a luz do dia. No entanto para Harvey e Bullock não será a fama ou o dinheiro o motivo para a encarnação nesta forma de estar. Talvez garanta a subsistência ou talvez se trate de uma estranha cruzada em busca da felicidade. Agora certo é que não se trata de um achado milagroso que seja um fiel retrato da cultura musical dos nossos dias. E se a dupla confunde o ouvinte com um título sem uma aparente razão de ser ou com uma capa misteriosa, fará as delícias de quem, por pequenos momentos, deseje esquecer os últimos 25 anos da música contemporânea. Confuso mas aprazível.


Eles não se preocupam com a idade. Mas preocupam-se com a qualidade soul que trouxeram ao mundo. Nós agradecemos.

Em 1997, ano oficial da fundação, a Sonar Kollektiv começou por ser uma super-estrutura organizada pelos Jazzanova de promoção não só de música, mas também de arte urbana em geral (intercambio de músicos e DJ's, design variado, organização de eventos de arte plástica, grafitis, entre outras expressões de rua) em conjunto com uma série de outros amigos-colaboradores. Na altura, a Sonar Kollektiv não era ainda sinónimo de editora de música como hoje conhecemos, mas sim nome empresarial que albergava uma série de micro-editoras (entre elas Airdrops, Best Seven, Dialog Recordings, Mermaid, No Zession Recordings, Recreation Recordings) cada uma delas com autonomia suficiente para contratar e editar nomes conforme os gostos e preferências de quem as geria. Tudo apenas com supervisão criativa de um colectivo de músicos, produtores e Dj: os imergentes Jazzanova.

A primeira micro-label a estrear-se foi a Airdrops onde revelar-se-iam Meitz e RAS. Seguiu-se a Dialog com os primeiros trabalhos dos Extended Spirit (núcleo criativo dos Jazzanova), a Mermaid onde se revelariam os Slope, a No Zession onde militariam os Micatone ou, a ainda activa, Best Seven que nos agraciou com nomes como Lightning Head de Glyn "Bigga" Bush (ex-Rockers Hi-Fi) ou Joe Dukie & Dj Fitchie (a fase embrionária dos Fat Freddys Drop).

As atenções de DJ's (uns menos outros mais profissionais, como por exemplo Gilles Peterson) e do público em geral acabaram por ser atraídas, não só pelas edições cada vez mais regulares de 12” ou EP, mas naturalmente pelas antologias de qualidade, umas mais temáticas que outras, como Off Limits de Dixon, as Dub Infusions de Daniel Haaksman, In Sessions de Stefan Rogall, Best Seven Selection de Daniel Best e, naturalmente as colectâneas organizadas pelos próprios Jazzanova. Era evidente que um conjunto tão disperso de ideias, de projectos criativos, de etiquetas, produtores e DJ’s estariam sujeitos a perderem-se no tempo e no espaço se a Sonar não fosse alvo de uma reestruturação, tanto da sua organização funcional como da imagem transmitida para o exterior.

Em 2003 essa reformulação acabou por acontecer, tendo sido extintas todas as micro-editoras que orbitavam em torno do mesmo logótipo. Toda a estrutura passou então a designar-se apenas de Sonar Kollektiv e todas as edições, fossem da responsabilidade de quem fosse, passariam a ter uma única marca registada. A primeira edição Sonar data-se de Março de 2003, tendo sido editado na altura o segundo volume da colectânea, desta vez organizada por Dixon, com o nome da editora: Sonar Kollektiv. Nomes que haviam feito a casa nos primeiros anos, juntavam-se no mesmo registo como sinal evidente de uma união de facto que haveria de sobreviver até aos nossos dias.

Muitos nomes passaram pelo catálogo da SK, uns ficaram e fazem hoje em dia parte da mobília da casa (Slope, Jazzanova, Micatone, Georg Levin, Clara Hill) outros iniciaram-se e partiram para outras aventuras sonoras (Forss, Deyampert, Future Beat Investigators, Sygaire) outros encontraram momentaneamente um escape para, dissimuladamente, editar outras formas de música (Moonstarr, SoulPhiction, Benny Sings, Henrik Schwarz). E é tal a abrangência da música editada que muito provavelmente o espectro sonoro continuará a alargar-se no futuro. Prova disso foi o recente apadrinhamento das primeiras excursões da Innervision ou as actuais apostas no reggae com projectos desconhecidos como os neo-zelandeses The Black Seeds ou a alemã Eva Be.

Chegados às comemorações do 10º aniversário da Sonar Kollektiv, não poderíamos de deixar de ser presenteados com mais uma antologia. Não daquelas que os Jazzanova habitualmente impõem aos consumidores habituais de colectâneas. É, sim, uma colectânea/retrospectiva do catálogo de uma das mais influentes editoras europeias: uma mega colectânea de dois CD’s que não se inibe de contar a história quase – mesmo quase – minuciosamente.


V/A- Sonar Kollektiv
10 Years, Who Cares?

Certamente que não poderemos deixar de acreditar que ao longo de 31 faixas estarão representados alguns dos mais importantes clássicos da editora de Berlim. Sim, que a presença dos Extended Spirits e dos Jazzanova é inevitável, tal como a presença de Joe Dukie & DJ Fitchie com o fabuloso “Midnight Marauders”, Nuspirit Helsinki com “Seis Por Ocho” revisto pelos brasileiros Azymuth, RAS e o seu “Beat De La Romantique”, Forss e a estranha produção “Using Splashes”, Lightning Head com “Me & Me Princess”, Soul Quality Quartet e “I’m Not Here” ou dos Fat Freddys Drop, maravilhosamente revistos pelos Jazzanova. Curiosamente todos estes temas estão inseridos no primeiro disco (compilado pelos Jazzanova), tendo sido transferidos para o segundo CD, alguns dos mais desinteressantes temas. Vale-nos a perícia na arte da mistura do colectivo de Berlim para – parcialmente – salvar segundo disco de alguma monotonia estética. Porque com excepção dos curiosos Kabuki, Tokyo Black Star ou Moonstarr, os restantes ou estão entre o inoportuno, o inconsequente ou a pura perda de tempo.

Se é variedade através da abrangência que procuram, não faltaram momentos no próprio percurso da editora que proporcionem essa mesma diversidade. Ficará então por explicar a necessidade da inclusão de nomes que pouco têm contribuído para a credibilidade sonora da casa. Não será naturalmente necessário relembrar que não existem catálogos perfeitos, mas já será necessário salientar a inoportuna inclusão num quase desnecessário mix CD de temas ou nomes como Georg Levin (que fazendo parte à longos anos do catalogo, ainda não conseguiu impor-se como artista em pleno criativo), as desinteressantes revisões dos Wahoo de temas dos Jazzanova e os Solar System, Slope e o entediante "Komputa Groove" (o já habitual enche-lata da Sonar), os pouco relevantes Isoul8 ou Âme, a praxe de uma Tiger Stripes Remix para um original de Markus Enochson ou os já esquecidos Sequel.

O primeiro disco é praticamente imaculado, representando realmente o melhor que a SK trouxe ao mundo. Agora o segundo beneficiaria de uma selecção mais eclética por parte dos Jazzanova. De uma selecção que privilegiasse temas dos primórdios das micro-editoras da Sonar. Temas igualmente pertinentes numa revisão de catálogo. Em vez do indispensável, temos por vezes a sensação que o segundo disco é um elemento desnecessário que soa a um empilhamento de nomes com pouca pertinência no catálogo da Sonar Kollektiv. Não será grave, nem será completamente inútil, agora não se poderá deixar de apontar o dedo a uma selecção que começa por apresentar os diamantes mais vistosos e valiosos – abdicando de discretas pérolas que uma vez mais ficaram esquecidas no baú –, privilegiando depois o lado menos positivo da história.
Who Cares? We do!

Sonar Kollektiv: Discos essenciais

Extended Spirit - Solid Water (1999)(Dialog Recordings)
V/A - Off Limits (1999) (Recreation Recordings)
V/A - Dub Infusions 1989-1999 (2000) (Best Seven Recordings)
V/A - Sonar Kollektiv (200) (Dialog Recordings)
Micatone - Nine Songs (2001)(No Zession Recordings)
Reunion - Re: (2002)(Dialog Recordings)
RAS - Rhythmic Altered State (2002) (Best Seven Recordings)
Micatone - Is You Is (2003)
Forss - Soulhack (2003)
Deyampert - Shapes & Colors (2003)
Umod - Enter The Umod (2004)
Fat Freddy's Drop - Based On A True Story (2005) (Edição exclusiva para alguns paises europeus)
V/A Jazzanova: The Remixes 2002-2005 (2005)
Soulphiction - State Of Euphoria (2006)

Sonar My Sapce:
http://www.myspace.com/sonarkollektiv


ARTIGO PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BODYSPACE


THE CHEMICAL BROTHERS
WE ARE THE NIGHT

Poucos aguardarão com anseio um novo disco dos Chemical Brothers. Poucos escutarão o disco por completo. Mas muitos prestarão atenção aos temas mais orelhudos. A explicação será fácil e nem a desastrada lei de Murphy conseguirá perverter a lógica simplista de um projecto que, com mais de 10 anos de actividade, sabe que a melhor maneira de sobreviver num mercado de consumo rápido é se souber estruturar meia dúzia de temas e pelo meio colocar material inconsequente que preencherá o resto do disco. E não há dúvidas que Tom Rowlands e Ed Simons conhecem como poucos os mecanismos que fazem render a sua música e perpetuar a carreira.
Não são – nem nunca foram – um projecto capaz de erguer matéria com envergadura estética suficiente e retumbante que permitisse classifica-los como projecto essencial da pop contemporânea. No entanto, e de forma quase paradoxal, não há um único disco editado que não tenha chamado a atenção da imprensa especializada ou que não tenha atraído mais um punhado de fãs para uma causa que se julgava perdida. A forma como, ciclicamente, os Chemical Brothers baralham e voltam a dar é admirável. Não só produzem mais um disco inconsequente, como sem evoluir esteticamente um único milímetro, conseguem entregar à humanidade mais um monumento hedonista onde o corpo ávido de prazer, obriga a mente a ignorar os reais propósitos de uma música saltitona, cheia de ritmos pujantes e melodias que lembram-sempre-qualquer-coisa-mas-que-não-se-sabe-o-quê.
E entre esse pingue-pongue de boas músicas – que quase sempre são os singles – e um punhado de temas que para sempre serão ignorados que os Chemical Brothers provam que nem sempre o mais importante na música de dança é a inovação ou a criação de factos estéticos. We Are The Night poderia supor que estaríamos finalmente perante uma verdadeira ode à vida nocturna segundo a dupla. Mas a expectativa é rapidamente gorada pelos habituais encantos psicadélicos que tanto caracterizou Push The Button, Surrender ou Dig Your Own Hole. O fascínio pelos concertos rock, a insistência no big-beat, a aposta numa techno-house recheada de melodias pseudo-pop ou a acidez usual dos químicos adicionados não serão novidade por estas paragens.
O paradoxo persiste e os Chemical Brothers fazem questão que nada mude no paradigma do seu projecto. E enquanto assim for, haverá sempre alguma curiosidade em torno de Tom Rowlands e Ed Simons, que sendo uma grande banda de singles, ainda não consegui trazer ao mundo um disco que os confirme como grande banda de álbuns. De boa verdade se diga, se tivessem produzido um único grande disco, provavelmente já teriam desaparecido de cena. Assim, mantêm uma linha estética coerente através uma produção competente que, não abalando as fundações do universo, mantém-no unido. Afinal de contas foi esta a profissão que decidiram exercer, como tal proficiência é essencial.


JUSTICE
" † "
Não serão desprovidas de sentido as comparações dos Justice aos Daft Punk. Nem que esta dupla francesa soube, à sua própria maneira, fazer a síntese dos três álbuns originais de Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo. Ou que sejam considerados os filhos legítimos de um french touch da era Homework. Nada poderá ser considerado um disparate se atendermos ao facto que estes dois jovens franceses, os Justice, foram, durante a adolescência, influenciados pelo som house/funk híbrido de uma série de projectos gauleses e que o fascínio pela manipulação filtrada de sons disco lhes tenha ficado gravado no DNA artístico.
Depois de uma série de experiências em EPs e algumas remisturas – entre elas Human After All dos Daft Punk –, chega finalmente o álbum de estreia. Aguardado por uns e olhado com desconfiança por outros, o aglomerado de originais numa única “rodela” é a prova definitiva da capacidade de erguer, de forma conceptual, um registo coerente, onde acima de tudo, um projecto consiga fazer valer os seus propósitos, as suas ideias e traga ao mundo uma mensagem que marque o maior número de espíritos.
Xavier de Rosnay e Gaspard Auge fazem parte de uma nova geração que depois do fascínio pelo house do french touch, encantaram-se pelos revivalismos new-wave e electro-pop e desenvolveram a sua base de trabalho em torno de vários mitos, tendo concentrado energias num rock em espiral visto e revisto à luz das novas electrónicas. Os resultados foram irregulares, mas enquanto alguns morreram no desembarque, outros souberam atravessar o deserto criativo e encontrar um porto seguro onde a sua linguagem singular pudesse sobressair em relação aos demais.
Os enigmáticos Justice atingiram um patamar onde, através da Ed Banger – que desde 2002 é uma das mais activas editoras electro francesas –, ergueram uma sonoridade homogénea onde laivos de rock robustos assentam sobre ritmos funk e melodias disco. Nada de novo, dirão muitos. Mas as pulsações nervosas dos sintetizadores – a lembrar um live rock –, os estranhos encaixes sonoros retro, a pungência da estrutura rítmica e os delírios disco marcaram uma identidade musical que os Justice souberam explorar a seu favor.
Conotados com uma house suja, agreste e ácida, a dupla reúne neste – ou seja lá qual for o nome que queiram dar – um conjunto de temas bem equilibrados onde Homework, Discovery, Human After All e os diversos trabalhos das extintas editoras Rolé e Crydamoure são as melhores referências estéticas. Não abonará muito a favor da criatividade e originalidade, mas a destreza em como pegam no legado dos Daft Punk e o atiram contra a parede é divertido e bem enteretido. Veja-se o caso dos três primeiros temas ("Genesis", "Let There Be Light", "D.A.N.C.E.") para depressa chegar-se a essa conclusão.
A aspiciência da dupla é limitada, mas se o objectivo é trazer à superfície o bom electro/house francês então o objectivo foi concretizado. O disco é festivo e alegre sem que o kitsch disco arruíne o ambiente, é contagiante sem resvalar para o mainstream a que nos habituamos, é provocante pela estranha e bruta sensualidade que emana. não possui o brilhantismo de Homework, mas por perplexo que possa parecer, os Justice possuem agora o que os Daft Punk perderam se não tivessem feito um terceiro disco por frete.





MATTHEW DEAR
ASA BREED

Matthew Dear tem feito da quebra de paradigmas o seu principal objectivo enquanto produtor. Seja através da escrita em nome próprio ou encapuçado de Jabberjaw, False ou o mais mediático Audion. Será dos poucos que tem uma visão própria do que um techno inspirado pode fazer pelas linguagens electrónicas mais despojadas. Retirando a faceta mais imediata de um techno funcional e desenhado para as pistas, Matthew disponibiliza-se como poucos neste Asa Breed a actualizar a visão modernista dos princípios que regeram a acção pop de Brian Eno, dos Talking Heads, de Beck, de Nick Cave e até mesmo dos legendários Kraftwerk.
Do Michigan chega o perfeito exemplo da extraordinária capacidade de estruturar pequenas canções pop – algumas a sonhar com o Verão – e simultaneamente promover o lado mais hedonista da música. No início Dear propõe-se a desbravar os ideais tech-house que orientaram a música nos dois primeiros discos – especialmente Backstroke (2004) – para depois dedicar-se à eloquência de uma tech-folk camuflada, quente e inspirada. E à medida que caminhamos para o fim perdemos um pouco a noção do papel que o techno ou o house desempenham. Mas no gume entre a especulação da gramática pop, o experimentalismo high-tech – umas vezes iluminado, outras soturno – e o prazer de fazer boa música, encontra-se a mais-valia que realmente trás ao mundo um facto estético capaz de devolver clarividência à humanidade. Uma das poucas maravilhas de 2007.
 
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    "De todas as artes que conseguem crescer no solo de uma dada cultura, a música é a última das plantas a germinar, talvez porque é a mais interiorizada, e, por conseguinte, aquela cuja época vem mais tarde é o Outono e a desfloração dessa cultura. A alma da Idade Média cristã encontrou a sua expressão mais acabada na arte dos mestres holandeses: a arquitectura musical por eles elaborada é a irmã póstuma, não obstante legí­tima e igual em direitos, da arte gótica. Foi na música de Haendel que tomou forma musical aquilo que de melhor havia na alma de Lutero e dos seus, esse acento judaico-hebráico que deu á Reforma um certo ar de grandeza: o Antigo Testamento faz música, o novo não. Mozart, o primeiro, restituiu em metal soante todas as aquisições do século de Luí­s XIV e a arte de um Racine e de um Claude Lorrain. Há na música de Beethoven e de Rossini que a melodiosamente respira o século de XVIII, o século do devaneio, do ideal destruído, da fugaz felicidade. Toda a verdadeira música, toda a música original, é um canto do cisne. Talvez a nossa música moderna, seja qual for o seu império, e a sua tirania, tenha diante de si apenas um curto espaço de tempo, porque surgiu de uma cultura cujo solo minado rapidamente se afunda, de uma cultura que em breve será¡ absorvida."
    Friedrich Nietzsche In Nietzsche Contra Wagner.


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